terça-feira, 10 de julho de 2007

Meus amigos, peço desculpas pelos dias de silêncio. Como havia comentado, meu blog depende daquilo que vejo. Ou melhor: do que me proporcionam ver. Já há dias ocorre uma espécie de greve de espetáculo na vizinhança. E, por não gostar de embromação, preferi calar-me. Mas hoje finalmente alguém jogou a bóia e me salvou. Foi Danuza. Sem saber, Danuza garantiu a continuidade deste microcosmos do qual não faz a menor idéia. Sim, amigos. Danuza abriu-me a sua janela. Deixou escapar sua adorável existência através do vidro. Por entre venezianas e adesivos de marcas. Confesso que experimentei enorme felicidade. Observei que meus sentimentos por Danuza cresceram deveras desde a última vez em que a vi. Não sei como, nem por que. Gosto de fato de Danuza. Desconheço seu verdadeiro nome, sua voz, cheiro. Desconheço o que quer que seja de Danuza. Talvez esse seja o melhor da história. Assim Danuza se torna mais minha. Mais legítima. Original. Mesmo a tendo flagrado em companhia de um homem. Mesmo a tendo flagrado em intimidades com outro macho. Não me importa. Aquele homem não possuía a minha Danuza. Não calculava a santidade que há em Danuza. Estava limitado a uma instância pragmática de Danuza. Não transcendia.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

"O senhor pensa que vê"

Tomei vergonha na cara. Fui ao oftalmologista. As dores de cabeça voltaram. Minha vida tornou ao inferno. Liguei para mamãe. Pedi uma indicação. Vai no Berembaum, ela disse. Berembaum é da comunidade judaica. Conselheiro da FIERJ, Federação Judaica do Rio de Janeiro. Os judeus têm disso. Uns acabam como clientes dos outros. Instinto de sobrevivência de um povo milenar. Fui no Berembaum. Ele me examinou. Botou aquele diabo de letras para eu dizer. Eu dizia. Mais medições. Mais luzes na minha cara. Aquilo já estava me enchendo a paciência. Botou novamente as letras. Eu disse a porra que enxergava. Então ele me perguntou: o senhor vê bem? Eu: como assim? Ele: como assim o quê? o senhor não sabe se vê? Eu: claro que sei. vejo. vejo muito bem, obrigado. Ele coçou a calva. Deu um sorrisinho irônico. Escroto. Disse: não, não. o senhor pensa que vê. Médico filho-duma-puta. Eu odeio médicos. Estão sempre nos adoecendo para enchermos seus bolsos. Quis enfiar um murraço na cara do tal Berembaum. Mas sou um cara educado. Simplesmente enfiei a viola no saco. Fui embora. "O senhor pensa que vê". Já ouviram uma dessa antes? O pior é que quem vinha farejando ficcionalidade neste blog agora não terá mais dúvidas. Não nego a hipótese. Até pode ser ficcional. Mas é a mais pura verdade.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Zuleica



Não se fala em outra coisa que não a guerra contra os traficantes do Complexo do Alemão. Ah sim... os três gols de Robinho contra o Chile. Os brasileiros com seus sebastianismos futebolísticos! Acordei às três da manhã. Não havia nada para ver na televisão. Infelizmente não assino os canais a cabo. Fui para a janela. Nem viv'alma no prédio em frente. Aliás não tenho visto nada de interessante. É tudo uma pasmaceira. Ninguém chega à janela. Cortinas fechadas. Persianas abaixadas. Revejo as fotos do senhor Arnóbio, de dona Vilma, de Danuza. Uma espécie de estímulo para escrever. Passei pelo blog de um rapaz que abandonou a blogosfera. Deve haver vários assim. Nem faço idéia. Olhei as postagens com poucos comentários. Suponho que ele tenha se aborrecido com a baixa freqüência. Eu estou aborrecido com a miséria visual que meus vizinhos vêm me oferecendo de anteontem para cá. Se continuar assim, não terei nada para escrever. Nada tenho a contar aos amigos que vieram cá me visitar. Apenas que reparei no prédio ao lado uma figura desconhecida. Pelo menos para mim. É Zuleica. Uma mulher chique, que varre sua varanda a meio da manhã. Toda enfeitada. Maquiada. O oposto da Mãe da Família Infeliz. Zuleica ornamenta-se para ficar em casa. Lembra-me um pouco a solidão esperançosa do senhor Arnóbio. Pena a diferença de idade entre ambos ser enorme.