
Debaixo de senhor Arnóbio, mora uma mulher extremamente obesa. Batizei-a dona Vilma. Mudou-se para cá recentemente. Sua sala ainda está bagunçada. Há muitos móveis e objetos fora do lugar. Vejo um pequeno aquário vazio junto a um aspirador de pó. A toalha sobre a mesa é uma rede de balanço. Caixas de papelão empilhadas a um dos cantos. Dona Vilma tem um papagaio estridente. Quando ela está em casa, mantém a gaiola bem perto da janela. O bicho sobe no pára-peito. Caminha de um lado ao outro. Consigo identificar daqui a corrente presa na sua pata. É o tipo do animal que se acostumou ao cárcere. Bicho velho de cidade grande. Não tenta mais fugir. Sabe que não teria para onde ir. Aqui é tudo muito apertado. Às vezes, fico puto com dona Vilma por causa do papagaio. Nossas felicidades são excludentes entre si. Quando ele está alegre, incomoda-me profundamente. Para eu ficar totalmente satisfeito, teria que o cozinhar numa panela de pressão. Mas pelo que percebo o papagaio é uma das poucas alegrias de dona Vilma. Uma mulher abandonada a si mesma. Tão ou mais sozinha que o senhor Arnóbio. Acho que no fundo meus vizinhos me instigam compaixão.
16 comentários:
Afinal a tua vizinha não se encontra assim tão sozinha, pelos vistos tu reparaste nela, logo já fazes parte do seu mundo. O papagaio também é uma boa companhia.
Gostei de te ler, se quiseres passar no meu canto, és bem vindo.
Beijos
venho agradecer s tua visita e comentário. é com gosto que refiro que apreciei o teu texto. muito bem (d)escrita a "importância" de um papagaio...
felicidades. abraços
Olá FF, estiveste no meu cantinho e agora vim ao teu e gostei deste espaço.
Escreves de uma forma que a leitura simplesmente vai seguindo. Muito bom, gostei e voltarei.
Beijos
Mais uma história mto bem escrita.
Ainda bem que ainda existem pessoas como eu e outras, que acham que os pombos são pássaros importantes para a solidão das cidades e ornamento delas.
Quando publicar nova história aviso para o caso de quereres continuar a acompanhar a minha viagem e as curiosidades que retive.
Bjs
TD
Devem haver muitos solitários assim que buscam a companhia num animal de estimação
Que pecado cozinhar o papagaio em uma panela de pressão kkkkkkkk.
Gostei daqui, obrigado pela visita menino.
UM beijo
Furia
Estou a ficar dependente deste "voyeur" que me traz personagens tão interessantes do prédio em frente.
Como os prédios que estão do outro lado da minha rua ficam afastados, vou comprar uns binóculos para ver se encontro algum papagaio que me sirva de inspiração. ;-))
Abraço cá deste lado
Olá,
Obrigado pela visita ao meu cantinho.
Volta sempre!
Abraços
Olá Moniz,
Vim para satisfazer a curiosidade, já que foste ao meu blog deixar um cartão de visita.
Gosto do teu tipo de escrita. Descritiva mas telegráfica. Sumária mas incisiva. Apreciei também o ambiente citadino do aperto, da clausura que cada um transporta dentro de si mesmo.
Deixo um abraço e devolvo-te a cortesia do convite, se assim entenderes passar pelo meu canto.
Fica bem.
Muito obrigada pela tua visita, antes de mais.
Viciante esta coisa de ser voyeur... Novo romance?
Beijos e até já...
Gostei de te ler...como ate aqui
Um Sorriso(",)
Até breve(*)
PS: Grata pela visita (*)
Coitadinho do papagaio... cozinhado numa panela de pressão?!
Pobre bixinho...
***
Uma escrita interessante, a tua :)
Beijo
Interessante...gostei de te ler
His finger then, now yours
here, where master stopped, went back,
counted syllables.
(Irving Feldman)
o que eu estava procurando, obrigado
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